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sábado, 11 de setembro de 2010

A fórmula do viver

Quando pequena morava em uma cidade de maioria rural. Eu por exemplo, morava no campo.
Bem cedo eu acordava e ia tirar o leite fresquinho da vaquinha Verônica, depois ia à cachoeira onde ajudava minha mãe a lavar roupa, e sempre acabávamos molhadas, brincando de jogar água uma na outra. A tarde eu para a escola, aprendia e no final do dia, após chegar em casa, jantar e tomar banho eu ia ver as estrelas com o João meu vizinho de porteira.
O tempo passa. Com ele cresci e passei numa faculdade, tive que sair de casa e ir para um lugar maior, como meu pai costumava dizer:" ir para um novo mundo!" Acabei o relacionamento com o João, não ia dá certo tamanha distância.
Quando cheguei na nova cidade, me deparei com outra realidade. Ao invés das plantas que havia ao redor da minha casa no antigo lar, havia um lixão que cheirava mal pra caramba.
Nunca vou esquecer daquele cheiro de pizza estragada. Enfim, era realmente outro mundo.
Todos os dias eu tinha que pegar um ônibus e caminhar um quarterão, o que eu adorava fazer se não tivesse que ver todos os dias alguém pedindo comida. Na faculdade apareceu outro João, o qual vou chamar de João da cidade. Esse, dizia que eu era a caipira mais linda que ele já havia conhecido. Só namorei ele porque parecia ser um cara esperto, pois o tal me pediu em namoro no único lago limpo da cidade. Foi lindo. Um pôr do sol, um lago amarelado, um céu cor de rosa, um ventinho frio e com cheiro de eucalipto.Perfeito!
O tempo passava, nunca parava. Eu estava formada em medicina, não tinha namorado, na verdade acabara de me separar do João da cidade. Ele me colocou medo. Começou a beber, fumar e a xingar as pessoas da tv. No momento não estava afim de ninguém. Eu trabalhei muito, ajudei algumas crianças, podia até ter ajudado mais. Comprei uma casa simples, com um belo terreno no qual eu fiz uma praça, com muitas flores, bancos e postes.
Eu saia aos domingos com alguns amigos. Dançava, cantava, curtia a noite. Ter filho era uma vontade, mas, não estava afim de procurar um pai. Adotei uma criança linda, que por ironia do destino, morreu. Eu bem que podia me revoltar, xingar os deuses talvez, mas, não iria adiantar.
Voltei ao campo onde meus pais ainda moravam, estavam velhinhos, com algumas doenças.
Infelizmente o tempo não para, a vida não para, as horas não param. Meu pai se foi, e minha mãe, que era tão sadia, adoeceu de saudade. Eu, um campo, um lago quase seco, sem pai, sem mãe e com um João vizinho para me ajudar.
Casei com o João, voltei para cidade, precisava voltar a trabalhar. Vivemos muitos momentos felizes, verões românticos, tardes lindas, até que no final de uma, aos 83 anos, João do campo, morre de enfarto.


Eu tenho 93 anos, e eu podia me reclamar de algumas perdas, mas não adiantaria. Eu fui feliz, fui muito feliz. Estou aposentada, moro no velho campo. Tenho câncer, eu podia ter desistido em algum momento, largar minha vida ao tempo.Mas, existe uma coisa dentro de mim que não se apaga, se chama esperança. Sinto que esses são meu últimos minutos, e então resolvi relatar minha vida, para que todos fiquem esclarecidos que SIM, EU SOU FELIZ. Estou sentada e escrevo em um velho caderno de folhas amareladas. Estou na beirinha do lago, o sol está se pondo, o céu está rosa, a brisa do vento frio me acalma, a água do lago balança e faz um barulho adorável, morrerei realizada, encantada com essa última imagem que os meus olhos captam. Vou com o sol e logo mais, com o nascer da lua, vou estar brilhando no céu.

4 comentários:

Anônimo disse...

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LINDO\!

bjão amg! Mila

Lari disse...

Seus textos me surpreendem a cada linha, dá vontade até que eles não acabem!

Boa semana!
beijo

Anônimo disse...

Precisa comentar algo? =O
LINDO\! +1

/fernanda

Mario disse...

Gostei ~!
Seus textos melhoram a cada dia carolzita *-* ~(L)