Sabe aquele cheiro de terra molhada? ele não conseguia esquecer.
Foi sentindo aquele cheiro, foi ouvindo os barulhos das gotas caindo, foi vendo sua blusa ficar molhada, que deu seu primeiro beijo. O cenário perfeito, a hora errada.
Ele acordou como todos os dias, entusiasmado! colocara o despertador para tocar ás 5:40, tomou banho, vestiu-se, comeu alguns cookies com um copo de achocolatado, escovou os dentes, procurou o presente que tinha um destinatário especial.Achado o presente, amarrou os cadarços novamente, nada podia dar errado.
O ônibus estava atrasado, ele se desanimou um pouco, mas só um pouco. Lembrou que havia esquecido de um detalhe muito importante, o perfume! Nossa como ele podia ter esquecido logo do perfume.. o ônibus estava quase chegando, não dava tempo de ir em casa.. olhou ao redor.. havia uma casa próxima ao ponto com um jardim lindo..
Colheu 3 rosas, esfregou pelo seu corpo todo.Voltou ao ponto. Será que aquele cheiro de rosa não ia parecer afeminado? ele se sentiu confuso.. abaixou a cabeça.. estava em cima de uma poça d'água.. mas não, era melhor ir cheirando a rosas do que ficar sujo e fedido.Desistiu dessa idéia tola.
O ônibus chegou,ele pisava cuidadosamente em cada degrau,não podia pagar o mico de cair..todos olhavam para ele.. se sentiu acanhado.Cheirou-se discretamente.. o cheiro das rosas não estava forte.. não era isso, então por que lhe olhavam daquele jeito?
Logo percebeu. O motivo pelo qual ele havia acordado tão eufórico.. não estava no móvel. Ele sentou no último banco e pela segunda vez no dia.. abaixou a cabeça olhando para o cadarço.. De repente uma garota ruiva se aproximou e sem falar nada lhe dera um bilhete.Ele sorriu discretamente. Leu o bilhete que dizia:
" Bili, não irei para escola hoje pois logo hoje no dia do meu aniversário minha vó Zelda morreu. A mamãe está triste e como o papai não voltou de viajem, sobrou apenas eu para cuidar da minha mãe. De tarde chegarão meu tios, daí poderei dar uma escapadinha. Se puder me encontrar no lugar de sempre.. estarei esperando.
Com amor, Loly "
Ele mais uma vez sorriu discretamente. Seria até melhor.. colocaria perfume!
As aulas pareciam não mais ter fim.Ele não pensava em outra coisa que não tivesse a ver com a garota branquela,de cabelos curto e pretos, chamada Loly.
O sinal tocou, ele pegou a mochila, mas era o sinal para ir para o recreio. Que chatice, ele estava cansado de esperar.. pensou em fugir, mas não..
Finalmente, para alegria de todos.. o sinal que significava saída tocou, e como tocou.. talvez fosse porque ele estava tão ansioso que aquele sinal tocou tão alto como nunca.
Saiu, entrou no ônibus.. desceu em casa, tomou banho após chegar do colégio o que sua mãe achou bem estranho. Não reclamou da verdura na carne.. de nada. A mãe como toda mãe, perguntou o que estava havendo, ele não se importou em responder.
" nada.." . Não sabia disfarçar, era só um garoto.. mas a mãe não insistiu.
Mais uma vez foi até o quarto, procurou o presente, já estava meio amassado.. mas tudo bem. "Mãe,vou ali.. mais tardinha eu volto tá bom?", a mãe mal ouviu mas respondeu o de sempre: "certo, cuidado na vida heim garoto?! não apronta,a se não sobra pra mim que sou mãe. "
Ele correu, correu muito. Chegou ao local combinado.. ela estava lá. Mais clara que o sol.. se quer saber, o sol havia se escondido.. estava nublado.. pela idade que tinham eles podiam sentir medo,pois, quem não nunca teve medo de trovão. Porém, a felicidade que sentiam e o sentimento que ainda não sabiam o que significava compensava,confortava qualquer medo. Eles tinham um,o outro.
Ele segurou a mão dela com uma mão, a outra estava ocupada com o misterioso presente escondido atrás das costas.. Ela foi abrindo devagar e tirou de dentro daquele embrulho amassado um diário e uma canetinha, era um conjunto!
Ele falou "gostou? foi só o que deu pra comprar com a mesada.. sei-lá, você pode escrever como está se sentindo quando eu não estiver por perto."
"Eu amei Bili, vou guardar pra sempre." disse ela.
Eles se abraçaram, de repente, começou a chover.. eles se abraçaram mais forte ainda. Ele deu seu 1° beijo, ela também. Não foi apenas o encostado de outro lábio no seus, foi melhor, eles sentiram amor, mesmo sem saber o que era, foi bom, foi ótimo.
Quando a chuva diminuiu, eles se abraçaram pela terceira vez no dia.. ela foi para um lado, ele ficou olhando e sorriu discretamente,como sempre.. ela deu tchau.
o último tchau.
No dia seguinte, na mesma euforia.. ele foi a escola. Ela não estava no ônibus, ninguém estava.. o ônibus não atrasou, apenas não foi ao ponto.
Ele voltou para casa ainda sem saber o motivo.. a mãe ligou para escola, não era feriado, era luto. A mãe do Bili não sabia como dar a notícia..lágrimas escorriam pelo rosto dela, antes que ela desligasse. Bili correu.. foi para o lugar de sempre.
sentou-se, olhou para o cadarço, estava desamarrado. Aquele dia não ia ser bom.
não foi. O céu ficou preto, não havia nenhum sentimento que pudesse substituir o medo que sentia. Chorou e junto a ele a natureza também chorava. A árvore a qual presenciou os encontros dos pequenos parecia triste, indefesa.. ao invés de frutos caindo.. caiam folhas.
Foi o seu 1° amor, morreu ao chegar em casa, após escrever no diário o quanto amava ele , o seu 1° e único amor.
Bili chorou uns dias, seu cadarço se desamarrava constantemente. Mas veio outra chuva,outra árvore nasceu no lugar daquela que morreu e Bili voltou amarrar seus cadarços fortemente. Bili voltou a ser feliz.
NÃO DETERMINO UM FIM, POIS PARA MIM NADA TÊM FIM.
PS: Bili ainda ama Loly, pode ter certeza
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