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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Não é tão simples assim

Estava a procura de emprego no jornal,encontrei algo e telefonei.
A atendente pediu meu nome, falou o horário da entrevista e ordenou que eu fosse de terno.
Bem, eu estava apertado, não tinha dinheiro algum para comprar um paletó.
Fui ver oque havia por baixo do colchão velho. Achei 73 reais e algumas moedas. Juntei esse dinheiro com o troco do lanche de 2 anos, era para caso de emergência, essa era uma.
Tomei banho, comi, escovei os dentes e com o cabo da escova raspei o resto de geo de cabelo que havia no pote, passei. Modestia parte nem preciso me vestir com roupas boas, pois sou muito atraente.
Sai de casa correndo pois passaria ainda na Casa das Noivas para alugar o paletó.
Chegando lá, perguntei quanto custava o aluguel do mais barato:
- O mais simples é este marfim aqui.
- E quanto custa?
- 70 reais.
- Quê?! só esse casaquinho?
- Sim senhor, vai querer ou não?
- Fazer o que? e a gravata?
- A gravata custa 3 reais o aluguel.
- Não, tudo bem! Vou levar tudo.
O dinheiro só deu para o paletó e a gravata. Eu ia de calça jeans ,all star e ao invés da maleta usava a bolsa velha que minha irmã esqueceu lá em casa.
Cara eu fui a procura do meu trabalho, fui com fé mesmo, eu ia precisar.
Chegando lá, a sala de espera estava lotada de gente engravatada. Vestiam paletós pretos com linhas douradas, outros com linhas cinzas. Todos estavam bem mais vestidos que eu.
A moça da recepção olhou para mim de cima a baixo e perguntou:
- O que deseja?
- Vim à entrevista de emprego.
Ela me olhou de cima a baixo novamente, fez uma cara de nojo e disse:
- Pode esperar, daqui a alguns instantes vão te chamar.
- Obrigado senhorita.
Chamam pelo meu nome, entro na sala e começa o interrogatório:
- Bom dia senhor?
- Luis, bom dia para o senhor também.
- Podemos começar?
- Com certeza!
- Fez faculdade?
- não senhor.
- estudou até que série?
- oitava.
- têm carro?
- não.
- certo, então anda de moto.
- não.
- desculpe, táxi.
- também não, ando de ônibus.
- nossa.
- o que?
- não, nada.
- sua casa têm ar condicionado?
- não, senhor o que isso têm haver com a entrevista de emprego?
- não ouse a me enterromper.
- como não? Acho que me enganei de entrevista. Vim aqui para conseguir um emprego de atendente de telefone. Primeiro me mandam vir de paletó e agora essas perguntas!
- Querido, aparência é tudo. Todos dessa empresa devem se vestir bem.
- mesmo que não se sintam confortáveis? isso não é vida!
- aa, e quem não têm carro deve chegar aqui de táxi, não queremos ninguém chegando aqui pingando de suor.
- não se preocupe, não tenho mais interesse de trabalhar em lugar como esse.
Me levantei, fechei a porta com bastante força para demostrar a raiva que estava sentindo. Todos ficaram olhando. Parei e lhes dei uma dica:
- Digam ao ''patricinho", "Mario gasolino" ali de dentro, que possuem carros e que casa de vocês têm ar condicionado até na P&#*A do banheiro.
Fiquei indignado, agora sei o porquê de tanta bandidagem no mundo. Talvez a culpa não fosse só dos gerentes da empresa e sim dos própios cliente que preferem entrar em uma loja com boa aparência, em vez de um bazar. Devolvi a droga da roupa. Cheguei em casa já era hora do jantar.
O que comer? Eu devia comer o maldito paletó que devolvi.
Desci do meu apartamento e fui dar uma volta na orla. Achei 300 reais no chão, olhei ao meu redor, não havia ninguém. Peguei o dinheiro fui ao super mercado, comprei algumas coisas.. Voltei a orla chamei uns garotos de rua e fizemos um lanche, um delicioso lanche.
O que eu aprendi naquele dia eu não sei explicar, mas você já deve ter entendido.

PS: se não entendeu é porque ainda não percebeu. Quando você realmente notar que o mundo não está nada bem, vou poder dizer que aprendeu o que eu aprendia naquele dia.
Hoje, nada é tão simples assim.

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